Seu melhor amigo da corrida definitivamente não é seu tênis inseparável, o companheiro que te puxa nos treinos mais difíceis e muito menos o seu honesto Garmin que lhe dá os feedbacks mais sinceros.
Existe um candidato a melhor amigo que está a muitos km a frente de qualquer produto de corrida! E esse sim, merece muito respeito.
Se você ainda não adivinhou, saiba: É do seu intestino que estou me referindo.
Nada tem mais potencial destrutivo dos seus treinos e provas quanto sua relação com seu intestino.
Intestino raivoso, coração partido
O recente post das 7 melhores dicas para véspera da prova, escrito pelo Iuri, me fez refletir sobre qual das dicas se mostrou mais valiosa na minha experiência como corredora.
Quando pensei em treinos e provas cujos resultados foram insatisfatórios, na hora lembrei de pontadas na lateral, calafrios e aquele desespero por um banheiro.
Geralmente se o seu intestino está em dias de fúria, há 99,999% de chance de abortar o treino ou seu pace despencar durante aquela prova para qual investiu semanas de preparação.
Definitivamente não tem muito como manter sua concentração, sua paz de espírito com dor de barriga e inúmeras paradas no banheiro.
Já tive esse decepcionante momento na preparação para Maratona de Chicago, não conseguia completar uma volta de 2km sem interrupção, a cada parada a cabeça e principalmente as pernas pareciam perder energia.
Melhor do que executar um treino bem aquém do planejado, é postergar o longo para o dia seguinte. Já paguei em 2 parcelas alguns treinos, e com os juros da ansiedade de não saber se as pazes com meio amigo seriam feita no dia seguinte.
É frustrante, trágico, mas acho que a maioria dos corredores já viveram essa experiência na vida.
Segundo cérebro
O intestino antes era subestimado por fazer o trabalho sujo de eliminar os nutrientes não aproveitados (o famoso cocô, número 2, rabo do macaco).
Hoje se sabe que ele abriga muitos neurônios atuando num sistema nervoso próprio sem dependência com o cérebro.
Um intestino irritado leva a flatulência, diarreia e distensão abdominal e influencia seu comportamento: mau humor, insatisfação com aquela barriga estufada e irritação.
Daí a famosa expressão: Enfezado!
O consumo excessivo de alimentos gordurosos até cafeína, stress e/ou ansiedade, alergias a alimentos e mudanças hormonais (mulheres entenderão) são causas potenciais para uma difícil relação com seu intestino.
Dependendo da sua sensibilidade, até a quantidade de cafeína do seu suplemento (carboidrato em gel) pode ser um agressor ao seu intestino.
Ou seja, não entre em conflito com um parceiro de corrida tão vital.
Treinamento intestinal intensivo
A dica de acordar cedo no dia da prova para acordar nosso amigo sem pressão é uma das melhores que pode ser dada a um corredor.
Vale dormir por uns minutinhos a menos e ficar como rei ou rainha no trono sem pressa, no conforto do seu lar ou hotel.
Afinal, no local da prova não se sabe o tamanho da fila, a estrutura do evento… O tenebroso banheiro químico fedorento (e muitas vezes sujo) é algo garantido mas não vale a pena depender dele.
Da mesma maneira, que seus músculos são treinados exaustivamente, o intestino também precisa entrar no ciclo de treinamento.
Ele precisa praticar como é acordar nesse horário, ser exposto aos alimentos que vai consumir na janta e café da manhã antes da prova além claro de simular os suplementos durante a corrida.
É um aprendizado com acertos e erros constantes, há momentos na vida que qualquer alimento desencadeia uma briga feia com intestino ou em alguns casos (mais raros), em que o intestino fica numa boa permitindo aquele happy hour bacana na noite anterior.
Já consegui consumir MacDonald’s na noite anterior e ter um treino acima da média no dia seguinte.
Foi bem arriscado, até irresponsável, mas num período de férias, meu intestino não estava exposto ao nível de stress de costume e foi camarada de não reclamar no dia seguinte.
Sofrimento até para os intestinos de elite
Na Olimpíada do Rio, alguns atletas top 3 de seus países sofreram com problemas gastrointestinais.
Na maratona masculina, o atleta Meb Keflezighi confessou parar cerca de 13x por um intestino mal criado.
No mesmo evento, dois atletas quenianos abandonaram o sonho olímpico após um erro crasso do staff da federação queniana que misturou as garrafas de suplementação desses dois atletas.
Como esses caras correm no limite, o efeito gastrointestinal foi tremendamente negativo.
Na marcha atlética 50 km no Rio, o francês Yohann Diniz era favoritíssimo até seu intestino decidir que esse não seria o dia dele brilhar.
Mesmo assim, o atleta foi ao limite mesmo sofrendo de diarréia durante a prova, desidratou, desmaiou, foi recolhido pela equipe e ainda retornou assumindo um excepcional sétimo lugar.
Enfim, corredores e não-corredores estão sujeitos a ficar em apuros quando o intestino não funciona adequadamente. Atletas ainda estão mais propícios, uma vez que a atividade física estimula o intestino.
Então trate seu amigo com a devida atenção, pois de nada vale uma panturrilha, banda, tendões livres de lesão se o nosso colega não cooperar!
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