O Mundial de Atletismo de Londres foi recheado de finais com atletas predominantes nas suas modalidades e/ou campeões olímpicos sendo surpreendidos por seus rivais.
Afinal, não é só nós, atletas amadores, que temos dias em que as coisas não se encaixam e os resultados não refletem todo o esforço nos treinos. A diferença é que o dia “ruim” desses caras é ficar entre o top 8 do mundo, perder por frações de segundos ou muitas vezes ainda terem que se justificar numa coletiva de imprensa sobre o porquê de não terem chegado em primeiro.
Em um momento infeliz, uma repórter questiona Bolt e Gatlin se os resultados inferiores nesse mundial poderiam estar relacionados aos rigorosos exames anti-doping. Bolt aborda o fato que todos são seres humanos, não máquinas, muitas vezes naquele dia o máximo que conseguem performar não se equipara com as melhores marcas. Existem lesões no processo de preparação que os impedem de atingir o auge da forma física. Muito irritado, a Lenda classifica a pergunta como desrespeitosa.
Podemos citar exemplos de surpresas nos 100m e 5000m masculino, nos 400m feminino e ausência de medalhista olímpico no Mundial.
Fechando carreira (de ouros) com chave de bronze
Era para ser os últimos 100m de Bolt largando dos blocos com tempo de reação ligeiramente superior dos competidores e ultrapassando Blake, Gatlin e companhia nos últimos 50 metros.
O medalhista de prata canadense De Grasse não tinha nem ido ao mundial por lesão sofrida durante os treinos, divulgado como um estiramento na posterior de coxa. Ou seja, as chances de Bolt aumentavam significativamente.
Usain Bolt não teve forças para arrancar no final, sendo ultrapassado por Christian Coleman – o homem mais veloz este ano e ainda universitário do Tennessee (mesma instituição em que se formou Gatlin, principal referência para Coleman).
Além disso, Bolt despencou para bronze após disparada fenomenal de Justin Gatlin, atleta 4 anos mais velho e intensamente vaiado pela torcida britânica por ser estereotipado como “bad boy” devido às duas suspensões por doping.
Mesmo com a derrota, o momento era de Bolt com reconhecimento amplo de tudo que esse astro fez pelo atletismo. Sou uma das torcedoras da “geração Bolt” que se aproximaram pelo esporte em função do carisma e talento únicos desse atleta.
Astro do evento sem dupla coroação
Mo Farah é outro cara inspirador de se acompanhar em redes sociais e com performance eletrizante em todos eventos. Não é o tipo de atleta mais destemido que vai para recordes mundiais (até hoje o recorde mundial 5000m e 10000m é do Kenenisa Bekele que já abandonou as pistas para competir nas corridas de rua). Mo busca o primeiro lugar com tática de vencer nos metros finais, na última volta.
Desta vez, houve uma intensa disputa pela liderança com até um provável trabalho em equipe de três atletas etíopes com estratégia de minar as energias do astro do evento e aparentemente “encaixotar” Farah cercando o na raia interna da curva.
No final não conseguiu superar Muktar Edris, atleta até então com “apenas” uma medalha expressiva no cenário esportivo em cross country.
O idolatrado Mo encerra com ouro na sua prova preferida, os 10000m, mas leva uma prata nos 5000m que também deve ser celebrada. Em nome do alto desempenho, o astro desse mundial se sujeita a ficar quase metade do ano afastado da família em camping de treinamento da delegação britânica.
Como comentei em post anterior, Mo Farah se dedicará a maratonas para garantir sua longevidade no atletismo. O atleta já inclusive fez seu debut na Major de Londres, finalizando em 2:08:21 – tempo excelente para um estreante, porém sem superar o recorde nacional britânico.
Nem Miller-Uibo, nem Felix
A final dos 400 m tinha tudo para ser uma repetição das Olimpíadas com disputa entre Allyson Felix (mais condecorada em mundiais que Bolt e mais veloz no ano) e Shaunae Miller-Uibo (bahamense campeã olímpica no Rio).
Shaunae largou com menor tempo de reação e liderou boa parte da prova, mas apresentou uma súbita perda de ritmo no final da prova e levantou suspeita de lesão ou câimbra. Segundo a atleta, ela se desconcentrou com suas imagens no telão do estágio e tropeçou após errar sua passada.
A americana Phyllis Francis assumiu o topo do pódio com recorde pessoal (neste ano ela consistentemente garantiu várias marcas dentro no ranking IAAF.
Ausências de Rudisha
David Rudisha, atleta queniano dominante nos 800m, não foi ao mundial devido a uma distensão na coxa. O anúncio veio via rede social no dia 31 de julho.
O atleta informou que nos treinos acabou dando uma sobrecarga no músculo para ganhar mais velocidade. Com muita sabedoria, ele optou por abrir mão da competição para recuperar-se e não comprometer o restante do ano.
Uma infelicidade, para quem em junho anunciava que estava em boa fase e queria o título mundial em Londres. Rudisha está sem marcas expressivas em 2017, apesar de ser campeão olímpico e mundial, além de deter o recorde mundial na distância. Nesta mesma cidade, Rudisha bateu o recorde mundial nas olimpíadas de 2012.
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O Mundial de Atletismo deste ano demonstrou alto nível de competição desbancando qualquer favoritismo mais claro, que antes víamos em outras edições. Muitos atletas tiveram dificuldades em assegurar dobradinha de ouro nas olimpíadas e no mundial ou simplesmente viram suas tentativas frustradas.
Toda alternância entre campeões olímpicos só torna o atletismo mais interessante.
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